28 junho 2012

E me fala de coisas bonitas... amizade, palavra...

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal 

Mineiro que é mineiro, de um jeito ou de outro, conhece os versos acima, um clássico do mestre Bituca, perdão, Milton Nascimento, o eterno parceiro e fã (isto mesmo, fã) do grupo teatral barbacenense e intergaláctico Ponto de Partida
A deliciosa poesia de Bola de Meia, Bola de Gude, foi um dos clássicos da música popular brasileira apresentados na última terça-feira, dia 26, no Cine Teatro Leon, no espetáculo “Travessia”, dentro do projeto Expedições. Em pouco mais de 1 hora (uma pena ser tão curto), atrizes cantoras e atores cantores fizeram uma “travessia” (perdoe o trocadilho) emocionante, unindo coreografia com plena harmonia. 

Agradecido. 

No mais, curta um papo com a produtora Fatinha Jorge e algumas cenas.

TRAVESSIA - Ponto de Partida by Marilson Ottoni on Grooveshark


19 junho 2012

Viva Chico Buarque de Hollanda

Olá leitor, agradecido por prestigiar esta homenagem ao mestre (que ele não leia que o chamei assim).
Aqui, apenas uma pequenina homenagem pelos 68 anos, nesta terça-feira, dia 19. Viva Chico Buarque de Hollanda.

Resolvi unir o agradável ao muito agradável (Chico e Drummond). 

Notas sobre A banda
Por Carlos Drummond de Andrade
O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.
A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vem trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, na falta de ar.

A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a idéia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, dobrados de guerra. Não convida a matar o inimigo, ela não tem inimigos, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.

Meu partido está tomado. Não da ARENA nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.

Se uma banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira. Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.
Carlos Drummond de Andrade Correio da Manhã, 14/10/66

06 junho 2012

Dia do Meio Ambiente é todo dia!

A montanha pulverizada

Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.

Era coisa dos índios e a tomamos
para enfeitar e presidir a vida
neste vale soturno onde a riqueza
maior é a sua vista a contemplá-la.

De longe nos revela o perfil grave.
A cada volta de caminho aponta
uma forma de ser, em ferro, eterna,
e sopra eternidade na fluência.

Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
- trem maior do mundo, tomem nota -
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem

"E Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói”, aí já é um verso do Confidência de um Itabirano, um poema mais conhecido, mas fiz questão de publicar A Montanha Pulverizada porque realmente mostra que Drummond, que escreveu este poema em 1933 já previa as consequências da má exploração dos recursos naturais e sua preocupação com o Meio Ambiente. A Vale, ou melhor, a CVRD foi inaugurada no dia 1 de junho de 1942, exatamente, completou 70 anos, o Confidência ele escreveu na mesma época e já entendendo o que significava àquela operação minerária.

Temos que nos preocupar com o desenvolvimento sustentável, ou seja, tem que ter mineração, mas de outro jeito.

Esta introdução é para apresentar um programa educacional da Polícia Militar (Programa Educacional Meio Ambiente em Movimento - PROEMAM) que eu e a rádio Educativa 97,5 FM (tem jeito de ouvir por aqui  tá?) apoiamos.

Acesse o blog do PROEMAM: http://migre.me/9neBY
Comandante do 4 Pel MAT, 2º Ten Carriere durante a entrevista na Rádio Educativa
Ouça uma das matérias que fala do Proemam, mas também da atuação da Polícia Ambiental (poucos sabem):
PROEMAN e Meio Ambiente by Marilson Ottoni on Grooveshark